quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Tarde com Ana Carolina
Segunda-feira, dia 11, 40 graus à sombra. Cheguei à casa no Jardim Botânico, com direito a elevador panorâmico. No 4º andar, em uma sala repleta de instrumentos musicais, Ana Carolina me recebeu com um abraço afetuoso. A cantora tinha chegado, na noite anterior, de um spa, onde se submeteu a uma dieta rigorosa. O resultado era visível: mais magra e com um semblante lindo. Na intimidade daquela que nasceu no dia 9/9, lançou o primeiro disco em 1999 e, para fechar a conta, disponibilizou 99.999 CDs batizados N9ve, com 9 canções, desvendei a alma de AC.
Os números
Tenho uma mania: de contar tudo: palavras, cores, números... (neste momento, eu olho para a janela e digo: “Nossa, que dia lindo” e Ana replica: “Frase par”). Às vezes, transfiro essa ansiedade para as telas: fiz um quadro e contei 4.585 pontos (a obra de arte está na entrada da casa dela – segunda foto, no alto). Tudo começou depois do acidente de carro que sofri, em 2001, na Barra da Tijuca. Foram 20 pontos na cabeça, uma perna imobilizada e muito tempo em cadeira de rodas. Foi terrível. Em alguns momentos passava o tempo... contando. Hoje, quando começo a contar sei que pode ser para o bem ou para o mal. Estou contando... preciso resolver alguma questão. Tento descobrir e voilà! Vou solucioná-la!
Terapia
Tenho 10 anos de carreira e faço terapia há 10 também. Eu morava em Juiz de Fora, tinha uma vida completamente diferente, quando, de repente, no primeiro CD, eu vendo 100 mil cópias em seis meses. Trabalhei muito e, agora, tenho de continuar a trabalhar mais ainda. A terapia me ajuda. Quando resolvo começar a contar durante a sessão, o terapeuta sabe que estou tentando fugir daquela conversa.
A pintura
Pintei dos 16 anos aos 18 e só voltei aos 27. Comecei como uma brincadeira para acompanhar uma paixão, em Juiz de Fora. Hoje, é um dos momentos mais prazerosos do dia e tenho uma fila de amigos para presentear com meus quadros. Aproveito a atividade para escutar as fitas-demo que compositores e cantores mandam. Tem horas que eu interrompo bruscamente o processo de criação porque ouço versos como: “Sai da posição de borboleta e vem lagarta para mim”. Como posso continuar a pintar depois de ouvir isso?
O silêncio
Desde muito criança tive de conviver com ele. Meus pais foram amantes e eu nasci dessa relação secreta. Na infância e na adolescência tinha de esconder meu sobrenome. Agora, fui para o avesso do que precisei esconder. (No recente álbum, N9ve, a música Traição tem a ver com esse passado e diz: “Há traição e no fim do caminho, perdão/ Uma curva escondida, entrada e saída/ Vontade perdida de amar”). O silêncio, hoje, é necessário antes de eu ter de tocar mil vezes um instrumento até a canção tomar uma forma. Preciso também do silêncio antes de um show para aguentar ouvir a minha voz, aos berros, durante uma hora e meia. Quando viajo para uma apresentação, saio de casa usando fones nos ouvidos. Vou para o aeroporto, entro no avião, enfrento horas de voo e fecho totalmente o som externo. É um exercício para o meu canto.
Celebridade
Não gosto de ser chamada de celebridade. Essa palavra não me interessa! Eu sou "música"!
Carreira
Significa trabalho. Componho como uma louca! Perco o táxi, a hora de comer, tudo para fazer uma canção. Muitos não sabem o quanto é trabalhoso o artesanato da música. Adoro uma frase que diz: “Para criar, você deve ter a tranquilidade de um artesão e a crítica do New York Times na cabeça”. Eu tenho a perfeita noção de que as glórias são transitórias. A estabilidade = carreira = trabalho árduo.
Internet
Sou viciada em internet, durmo e acordo com o laptop na cama. Youtube, sempre. Surfo o tempo todo na web. Amo conferir listas. Coloco lá: companhia aérea e vejo aquelas cujos aviões menos caíram. Faço pesquisas interessantíssimas. Ontem, descobri que uma cantora iraniana pagava a uma rádio para tocar músicas dela o dia inteiro (risos).
Rio de Janeiro e Minas
O Rio é Parque Lage e Lagoa. Minas, em linhas gerais, significa muita coisa para mim. Minas guarda minhas lembranças de criança, parte da minha história e, principalmente, me ensinou tudo antes de eu chegar aqui.
Ana por Ana
Não levo nada a sério, apesar de parecer levar. Detesto muito barulho e gente mole!
Fonte: JB Online
Por Érika Lima, equipe Ana Por Inteiro.