Para marcar 10 anos de carreira, a cantora mineira Ana Carolina lança Nove, seu disco mais sofisticado. O CD traz participações internacionais, produtores cultuados e novos parceiros - Gilberto Gil entre eles.
Já se vão 10 anos desde que a mineira Ana Carolina se lançou nacionalmente sob olhares desconfiados da maior parte da crítica. Para estes, era mais cantora de voz grave e postura andrógina, sempre comparada a Cássia Eller e Zélia Duncan. Mas logo ela se tornou uma das cantoras mais populares do País, se transformando numa grande vendedora de discos – rivalizando atualmente apenas com Ivete Sangalo. Tamanho êxito a colocou em patamares altíssimos e agora Ana Carolina celebra esta primeira década de carreira com um disco superproduzido, Nove (Sony Music), recém-chegado às lojas.
Mas, diferente do trabalho de estúdio anterior, Dois Quartos (2006), que era um CD duplo com 24 músicas, Ana Carolina optou por um trabalho mais conciso em torno de seu número místico que dá título ao CD. Sim, são apenas nove faixas desta cantora que nasceu no dia 9 de setembro (nono mês do ano) que lançou seu primeiro CD em 1999. A saber, ela completará 35 anos no próximo mês. E não se trata de seu nono disco – é o quinto trabalho de estúdio e o sétimo de carreira, incluindo aí os dois gravados ao vivo, um com Seu Jorge e o anterior, registro do show Dois Quartos com chancela do Multishow.
Porém, se Ana Carolina economizou nas faixas, o restante teve tratamento de super estrela. A produção do CD é assinada por três nomes hypados da cena atual: Mário Caldato, Kassin e Alê Siqueira, todos com uma lista imensa de colaborações no Brasil e no exterior. Por falar no estrangeiro, Nove é também o disco mais cosmopolita da cantora, com a participação de três nomes internacionais: o soulman norte-americano John Legend, a baixista e cantora de jazz Esperanza Spalding e a cantora e compositora italiana Chiara Ciello.
Chiara é também uma das novas parceiras de Ana Carolina a aparecerem neste CD, ao lado de Gilberto Gil e Dulce Quental, que se aliam aos já tradicionais Totonho Villeroy, Mombaça e Dudu Falcão. Isso sem falar na lista de músicos que traz nomes como Daniel Jobim, João Parahyba (Trio Mocotó), arranjos de Lincoln Olivetti, programações de Tejo Damasceno e Rica Amabis (do Instituto), Donatinho, Davi Moraes.
Bem... dados os devidos créditos de Nove, vale ressaltar que todo este pedigree resulta num trabalho bem arranjado, com diversidade de texturas e surpresas musicais como a pegada de tango eletrônico (à moda Bajofondo e Gotan Project) logo na abertura de 10 Minutos, belas presença de cordas em Dentro e Resta (esta dueto bilíngue com Chiara). O tango reaparece mais natural na levada de 8 Estórias. Sambas interessantes que ganham abordagens distintas em Tá rindo, é? e Torpedo, esta última com letra de Gilberto Gil. Ou no clima suave de jazz-ballad de Traição, garantida pela presença cult de Spalding, encerrando o disco. Isto é, Nove se revela o disco mais rico musicalmente na trajetória popular da cantora.
Mas, convenhamos, há momentos duvidosos. O dueto/parceria de Ana com John Legend em Entreolhares/The way you´re looking at me pode até funcionar como um hit radiofônico (é a primeira faixa de trabalho), mas soa como mera cópia forçada da bem sucedida parceria Vanessa da Mata com Ben Harper. Outras faixas têm até mais chance de êxito nas paradas, como é o caso das citadas Tá rindo, é? e Dentro.
Apesar das grifes anexadas ao nome de Ana Carolina, basicamente, seu trabalho não se altera em absolutamente nada com relação aos anteriores. Ela se mantém uma compositora popular que escreve canções românticas e confessionais na primeira pessoa. Mantém a polêmica já desgastada da sexualidade ao citar nomes de mulheres – especialmente em 8 Estórias. As harmonias são banais e as melodias ás vezes com jeitão de ‘já te ouvi’ – como é o caso de Resta. A única faixa que foge da linha estabelecida é o samba Torpedo, onde a letra de Gil se impõe superior ao restante das faixas.
Isto é, Ana Carolina traz o que seu público quer. Com mais sofisticação na embalagem, é claro, mas sem mudar um milímetro na essência. Deve, sim, manter os bons índices de vendagem, mesmo na crise do mercado, sem se arriscar em reais inovações e sem muita criatividade.
DISCOGRAFIA
CDS:
Ana Carolina (1999)
Ana Rita Joana Iracema e Carolina (2001)
Estampado (2003)
Ana & Jorge (2005) com Seu Jorge
Perfil (2005) coletânea
Dois Quartos (2006) duplo
Quarto/ Quartinho (2007)
Dois Quartos: Multishow Ao Vivo (2008)
Nove (2009)
DVDS
Estampado (2003)
Estampado - Um Instante que Não Pára (2004)
Ana & Jorge (2005) com Seu Jorge
Dois Quartos: Multishow Ao Vivo (2008)
SERVIÇO
NOVE
– Mais novo CD da cantora mineira Ana Carolina. Participações: John Legend, Chiara Ciello e Esperanza Spalding. Produção: Mário Caldato, Kassin e Alê Siqueira. Lançamento Sony Music. 9 faixas. Com letras. Preço médio: R$ 28.
Por Luciano Almeida Filho.
Fonte: O Povo.
Por Érika Lima, Equipe Ana Por Inteiro.