quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ana Carolina: "O universo entre duas mulheres é muito rico"

Bissexual assumida, a cantora revela que pretende congelar seus óvulos.

Por Valmir Moratelli



Ao lançar seu novo CD, "Nove", a cantora Ana Carolina mostra que continua sem medo de dizer o que pensa. “Sempre fui de falar as coisas em casa, de maneira aberta. Quando me tornei uma pessoa pública, mantive o que era em casa, falando sobre tudo naturalmente”, diz ela, que completará 35 anos no dia 9 de setembro, quando estreia um show, no Rio de Janeiro. Ela recebeu QUEM em sua nova casa, uma mansão de três andares, de paredes envidraçadas e muros altíssimos, no bairro do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. Numa das salas, repleta de quadros que ela mesma pintou, livros de capa dura como The Allure of Woman e The Big Penis Book predominam sobre a mesa de centro. Entre assessoras, empresárias e empregadas, são nove mulheres presentes por lá. Na entrevista a seguir, como era de esperar, Ana foi franca e direta: disse que vai congelar óvulos para, no futuro, ser mãe; desmentiu os boatos de que teria tido um caso com Adriane Galisteu e, mantendo a natural irreverência, falou de sexo com homens e mulheres.

QUEM: Por que tantos números 9 em sua vida? É uma superstição?
ANA CAROLINA: Fiz dez faixas para o disco novo, mas a décima era um blues, que seria um ET no meio de tudo, não tinha nada a ver com as demais. Aí, deixei só nove, ou seja, não foi nada “mirabolado”. Faço aniversário numa data cheia de noves. Quando vi que tinha nove canções, que minha carreira foi lançada em 1999, não teve discussão, pensei: “O CD vai ser Nove e ponto”. Mas não é uma fixação, é só coincidência mesmo.

QUEM: Você se incomoda em fazer aniversário, envelhecer?
AC: Um pouco. Vou fazer 35 anos. Se eu viver até os 70, me assusta pensar que já cheguei na metade. Tenho vontade de cantar mais 15 anos e depois partir para outra coisa. Não deixar de fazer música, mas ir para um lugar distante, sem compromisso de shows, sem ter que pensar na expectativa do público perante meus discos.


“NUNCA TRAÍ NEM FUI TRAÍDA. MAS OLHA QUE CURIOSIDADE:SOU FILHA DE UMA RELAÇÃO EXTRACONJUGAL DO MEU PAI. NASCI DESSA TRAIÇÃO, QUE DUROU 12 ANOS. “

QUEM: Na música “Tá rindo, é?”, você canta que “Homem bom hoje em dia tá ruim de arranjar”. É isso mesmo?
AC: (Risos) Escuto algumas pessoas falando isso, é um papo universal. Essa música é um papo entre duas mulheres dentro de uma van, falando sobre vestidos, casamento, homens... É uma crônica cantada (ela acende um cigarro e joga as cinzas no chão). Ai, o mundo é um imenso cinzeiro.

QUEM: Você já andou de van?
AC: Cara, andei na época do Ana Rita Joana Iracema Carolina, em 2001, quando fiz vários shows em lonas culturais pela Zona Norte do Rio. Tinha muita vontade de entrar numa van de passageiros mesmo, mas não dá, né? Voltei agora de Londres, ficava no meio da galera, não tinha essa coisa de “Ah, ali a famosa”. É uma sensação boa.

QUEM: Na faixa “8 estórias”, você lista situações diversas com mulheres. São todas suas ex?
AC: Não tem nada de verídico ali. Até porque não ficaria bem falar que só tive oito ex-mulheres. E também não ficaria bem contar de todas essas ex numa música (risos).

QUEM: Num CD anterior, você cantou que “comeu a Madonna”. E o que acha do Jesus Luz?
AC: Vamos manter a heresia, né (risos)? Jesus é muito melhor do que eu. Ela arrasou. Naquilo ali está tudo certo (refere-se a Jesus)! Aliás, se eu fosse comer “com” a Madonna, seria vinho e peixe, multiplicação da comida e da bebida, como na Bíblia.

QUEM: Além de tórridos amores, suas músicas falam bastante de traição. É um assunto que você conhece bem?
AC: Nunca traí ou fui traída. Mas olha que curioso: sou filha de uma relação extraconjugal do meu pai. Nasci dessa traição, que durou 12 anos. Meus pais não foram casados, e ele faleceu quando eu tinha 2 meses. Acredito que você traia porque quer um prazer e não pelo desejo de fazer mal ao outro (a mãe dela chega e interrompe a entrevista para beijá-la). Estava falando da senhora nesse momento, mamãe! Falando bem, claro.

QUEM: Você lidou bem com o fato de saber que foi fruto de uma traição?
AC: Não tinha que lidar com isso. Era fato. E, depois, meu pai morreu sem eu conhecê-lo.

QUEM: Em entrevista a QUEM, em abril de 2008, você disse que gosta “dessa coisa confusa que é o pensamento feminino”. Isso quer dizer que você gosta de discutir a relação?
AC: Adoro! Dos poucos relacionamentos que tive com homens, percebi que vocês são pessoas mais fáceis de lidar, as coisas são como são. Agora, falando da relação mulher com mulher, as diferenças são conversadas, e não ignoradas. Ninguém deixa nada para depois. Pense que são duas mulheres que têm TPM, são naturalmente complexas. Tem uma cumplicidade maior aí. Não sairia com a cueca do cara, mas saio com a calcinha da minha namorada. Uma mulher com outra mulher exerce vários papéis: o de mãe, amiga, namorada, mãe, filha. O universo entre duas mulheres é muito rico.

QUEM: Você pensa em ser mãe?
AC: Não tem como não pensar. Na última consulta, conversei com meu clínico geral sobre congelar óvulos. Ele disse que vai me passar o nome da pessoa com a qual posso fazer isso. Não me vejo hoje tendo condições de dar atenção a uma criança, com o tipo de vida que levo. E sou diabética, não sei com até quantos anos produzirei óvulos. Quero deixar isso relaxado na cabeça. Vai que, com 45 anos, resolvo ser mãe e não posso mais?


“FALANDO DA RELAÇÃO MULHER COM MULHER, AS DIFERENÇAS SÃO CONVERSADAS, E NÃO IGNORADAS. (...) PENSE QUE SÃO DUAS MULHERES QUE TÊM TPM, SÃO NATURALMENTE COMPLEXAS.”

QUEM: Não cogitaria a ideia de adotar?
AC: Sim, por que não? Minha irmã, Selma, adotou duas meninas na Amazônia, sou madrinha delas. Fiquei encantada em ver como aquela relação delas virou uma família cheia de amor.

QUEM: Você já disse que iria inaugurar uma fase mais “colorida” em sua vida, dizendo que estava em busca de um namorado. Isso se concretizou?
AC: Essa fase aconteceu. Mas passou. Eu me aquietei. Estou namorando, não vou falar quem. Estou superfeliz.

QUEM: Está namorando homem ou mulher?
AC: Ai, não vou falar. Corta, corta...

QUEM: No ano passado, você foi clicada aos beijos, num show da Preta Gil, com um rapaz. Vocês namoraram?
AC: A gente ficou, mas não quero expor a pessoa, porque ele não soube lidar com essa história. No dia seguinte, o Orkut dele estava cheio de meninas querendo explicações, a casa dele foi vigiada. Várias meninas diziam na internet: “Não suporto esse cara”, “Jamais esperaria isso dela”... Isso era coisa de gays radicais, claro. O público gay ficou mais incomodado em saber que eu beijei um cara do que o público normal ao saber que eu fico com meninas.

QUEM: Você e Adriane Galisteu tiveram um relacionamento?
AC: Não, imagina.

QUEM: Ela nunca negou nem confirmou.
AC: Eu soube dos boatos. Adriane estava numa época meio complicada. Ela chegou a ir nuns dois shows meus. E aí deu cabo para todo mundo sair falando essas coisas.

QUEM: Vocês são amigas?
AC: Somos amigas assim, de ela ir aos meus shows. Depois do show, a gente sai para jantar, com amigos... Não me incomodam esses comentários.

QUEM: Já namorou menino e menina na mesma época?
AC: Namorar, não. Mas já fiquei na mesma época, sim, e já era adulta. Não sei se eles souberam. Eu soube!

QUEM: Quem você seria se fosse um homem?
AC: Hum... Vou arrebentar nessa resposta! Eu seria uma junção. Teria os olhos do Andy Garcia, cabelos e nariz do Johnny Depp, boca do Brad Pitt e corpo do Wolverine, o Hugh Jackman.

QUEM: O que homens e mulheres têm que ter para te conquistar?
AC: Homem tem que ter convicções, cabeça aberta e não ter família tradicional. Uma mulher tem que ter tudo isso e usar salto alto.

Fonte: Revista Quem.

Por Érika Lima, Equipe Ana Por Inteiro.